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O envelhecimento, segundo a Organização Mundial da Saúde, é “um processo de diminuição orgânica, funcional e social, não consequente de doença ou de acidente e que ocorre inevitavelmente com o passar do tempo” (OMS, 2015). Neste processo dinâmico em que há, ao longo da vida, uma alteração da capacidade adaptativa do organismo face às agressões intrínsecas e extrínsecas a que está sujeito, torna-o mais suscetível e vulnerável. Sabe-se, portanto, que o idoso normalmente apresenta “limitações relacionadas com o próprio envelhecimento, com as doenças crónicas, que comummente estão presentes, e com a sociedade onde está inserido”. Assim, é, habitualmente, um indivíduo “física, psíquica e socialmente diminuído e cuja capacidade de recuperar e de repor o seu equilíbrio é mais lenta e mais difícil, necessitando, por isso, de acompanhamento médico e social peculiares”.

Neste contexto, surge a Geriatria, como ramo da Medicina que foca o seu estudo nos aspetos clínicos, sociais, preventivos e curativos das doenças no envelhecimento. A Geriatria tem, assim, como objetivos prevenir, diagnosticar e tratar precocemente a doença no idoso, bem como otimizar o tratamento paliativo e maximizar o grau de independência, com o objetivo major de manter a saúde, manter a funcionalidade e prolongar a vida, com a máxima qualidade.  Para tal, torna-se de extrema importância realizar-se uma avaliação geriátrica multidimensional, que pode ser definida como um processo de diagnóstico multidisciplinar, e frequentemente interdisciplinar, orientada para detetar problemas médicos, psicossociais e funcionais do idoso, possibilitando uma resposta mais completa e adequada dos profissionais, com consequente desenvolvimento de um plano de tratamento e de acompanhamento personalizados e a longo prazo, que culminará numa melhor qualidade de vida para o idoso. Permite, assim:

  • Aumentar a precisão do diagnóstico;
  • Tornar o prognóstico mais correto;
  • Diminuir o risco iatrogénico;
  • Facilitar condutas preventivas;
  • Orientar a escolha das intervenções;
  • Adequar as medidas assistenciais;
  • Facilitar o acompanhamento;
  • Melhorar a qualidade de vida.

A avaliação geriátrica global engloba a avaliação:

  • Clínica (história clínica, exame objetivo, exames complementares de diagnóstico se indicados);
  • Física (capacidade física, marcha e equilíbrio, estado nutricional);
  • Mental (avaliação cognitiva e afetiva);
  • Funcional (autonomia, independência)
  • Social (família, habitat, recursos económicos, rede social),

utilizando diferentes instrumentos, adaptados à população em que incidem, no nosso caso, validados para a população portuguesa.

Tal como previamente referido, com o envelhecimento, ocorre uma desordem da homeostasia (processo de regulação que permite que haja um equilíbrio), com especial declínio de algumas funções e, consequentemente, maior vulnerabilidade às doenças, como infeções, doenças cardiovasculares, doenças renais, neoplasias malignas, entre outras. As principais ocorrências no idoso, denominados de “os gigantes da Geriatria” ou “os 5 Is da Geriatria”, são a:

  • Imobilidade – qualquer limitação do movimento, com gravidade variável, e habitualmente, progressiva, comprometendo, em diferentes níveis, principalmente os sistemas cardiovascular, respiratório, digestivo, genitourinário e a pele;
  • Insuficiência cognitiva (inclui o défice cognitivo, a demência, o delírium, a depressão e outras doenças psiquiátricas) – compromisso das funções cerebrais com afetação da capacidade cognitiva do indivíduo e consequente impacto na capacidade de realizar as Atividades de Vida Diárias;
  • Iatrogenia – qualquer alteração patogénica provocada pela prática médica ou de outro profissional de saúde, devido à falta de conhecimento das alterações fisiológicas do envelhecimento e das peculiaridades da abordagem do idoso – por exemplo: prescrição de medicamentos inapropriados ou de um programa de exercícios inadequado;
  • Instabilidade postural e quedas;
  • Incontinência urinária – quando ocorre a perda involuntária de urina.

Estas cinco condições – alvo major da Geriatria – estão diretamente relacionadas com a perda de função e da qualidade de vida dos idosos, podem ocorrer de forma individual ou simultânea e partilham fatores de risco. São, portanto, condições complexas que devem ser reconhecidas e abordadas de forma individualizada e integrada, com foco na qualidade de vida, na independência, na autonomia e na dignidade humana, fundamental no estabelecimento de um plano de cuidados.

Ana Cristina Moreira

Médica de Família

O que são os cuidados em geriatria?

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