O período pós-parto é muito exigente do ponto de vista emocional, não só pelas alterações hormonais que acontecem no corpo da mulher, como pela mudança súbita de rotinas, falta de descanso e alteração do ritmo de sono, a que se junta actualmente o contexto de pandemia em que vivemos.
É também um período de grande ansiedade e expectativa na adaptação a um novo papel – o de mãe, principalmente quando se trata de um primeiro filho. A insegurança sentida e as dúvidas sobre o que será melhor para o seu bebé, podem levar a uma busca incessante de respostas entre um ruído de informações contraditórias, muitas vezes existentes nas redes sociais, o que pode levar a que a mãe se sinta cada vez mais frustrada e perdida. Por outro lado, a romantização da gravidez, com o foco numa perspectiva irrealista de perfeição, omitindo as dificuldades e os sentimentos negativos que lhe estão associados, leva a que muitas mulheres sofram em silêncio, sentindo-se culpadas e cada vez mais sozinhas.
Os sintomas de Depressão pós-parto iniciam-se normalmente nos primeiros três meses, mas podem aparecer até aos 18 e são em tudo semelhantes aos de uma depressão major, incluindo:
- Tristeza prolongada
- Irritabilidade e crises de choro
- Falta de energia e de capacidade e para cuidar do bebé
- Falta de ligação ao bebé
- Pensamentos obsessivos: por exemplo, ter medo de magoar o bebé ou ter preocupação exagerada com o seu estado de saúde
- Baixa autoestima e perda de confiança
- Dificuldade de concentração, atenção e memória
- Alterações do apetite e do sono
- Pensamentos de morte/suicídio
- Sensação de culpa, vergonha ou incompreensão pelos outros
- Incapacidade de falar sobre o que se sente a alguém
Mulheres com história de episódios depressivos no passado (especialmente se não tratados), com elevados níveis de ansiedade durante a gestação, que tenham sofrido alguma intercorrência durante a gravidez ou que vivam em ambientes de conflituosidade conjugal ou instabilidade socio-económica, estão mais vulneráveis ao desenvolvimento de uma depressão pós-parto.
Esta doença distingue-se do chamado baby blues, que atinge até 80% das recém-mamãs, e que é menos intenso e duradouro, esbatendo-se nas primeiras duas semanas após o parto. No entanto, este quadro não deve ser desvalorizado porque pode prolongar-se no tempo e evoluir para uma depressão.
Seguem-se algumas dicas que podem ajudá-la a sentir-se melhor:
- Alimente-se bem e faça algum exercício físico
- Não coloque muita responsabilidade sobre si mesma
- Tente rodear-se de pessoas que a apoiem
- Partilhe tarefas
- Converse com outras recém-mamãs sobre as suas dificuldades
- Consulte apenas a informação credível
- Cultive um tempo para cuidar de si
Quando instalada, a depressão tem um impacto negativo na saúde da mãe e no desenvolvimento do bebé, devendo por isso ser sinalizada atempadamente para que possa ser convenientemente tratada. O suporte emocional, a psicoterapia e/ou o recurso a medicamentos que sejam seguros na gravidez e na amamentação, são essenciais no tratamento desta condição e na promoção do bem-estar da mãe e do bebé.
Falar com um profissional de saúde (enfermeiro ou médico de família, psiquiatra ou psicólogo) deve ser o primeiro passo a tomar, pois a partilha das suas angústias e dificuldades com alguém experiente e de confiança, em ambiente seguro, vai ajudá-la a sentir-se compreendida e acompanhada. Saiba que não está sozinha e que há tratamento para a sua Depressão.
Ana Cristina Lopes, Médica Psiquiatra