A intoxicação alimentar é o resultado da ingestão de comida ou bebidas contaminadas durante a preparação, manipulação ou armazenamento dos alimentos. Esta contaminação ocorre mais frequentemente causada por bactérias, mas pode ser também devida a vírus, parasitas ou toxinas.
Esta intoxicação causa uma inflamação do trato digestivo, também designada por gastroenterite. O diagnóstico é geralmente clínico, com base na história associada aos sintomas – alimentos de origem duvidosa, contexto epidemiológico (pessoas que comeram no mesmo sítio e a mesma coisa, com sintomas semelhantes).
Os sintomas mais comuns são as náuseas e os vómitos, e como estão associados à expulsão do agente agressor, podem também resolver o quadro clínico. É comum o desconforto abdominal, cólicas e diarreia. Devido à dificuldade em ingerir novos alimentos, e por vezes até mesmo água, existe o risco de desidratação, e consequentemente dor de cabeça, fraqueza e cansaço. Podem surgir sinais e sintomas mais graves, como febre, calafrios ou convulsões, que deverão ser avaliados em contexto de serviço de urgência.
O tempo decorrido entre a refeição suspeita e o início dos sintomas pode ajudar a orientar o diagnóstico:
- < 2 horas, provável causa: toxina;
- > 2 horas, provável causa: bactéria;
- > 12 horas, provável causa: vírus;
- Vários dias, provável causa: parasitas.
A maioria dos casos de intoxicação alimentar trata-se apenas com reposição de líquidos e sais minerais, e pausa alimentar de algumas horas (em caso de existência de vómitos). Esta reposição é geralmente eficaz com o reforço da hidratação oral, mas se a pessoa não tolerar a ingesta de água, deverá recorrer a um serviço de urgência para que lhe sejam administrados líquidos por via endovenosa.
Embora seja uma situação comum, a intoxicação alimentar ou gastroenterite, pode ser facilmente prevenida. Para tal devemos ter alguns cuidados:
- Lave bem as mãos com água e sabão antes de manipular alimentos, quer para cozinhar, quer para comer;
- Lave bem as frutas e legumes, e todos os alimentos que ingira crus;
- Cozinhe muito bem os alimentos, em especial a carne, o marisco e os ovos;
- Não consuma produtos lácteos não-pasteurizados;
- Não consuma produtos com embalagem (em especial latas) danificadas;
- Separe os alimentos crus dos cozinhados;
- Conserve os alimentos nas temperaturas corretas para cada tipo de alimento;
- Verifique as instruções de armazenamento no rótulo dos alimentos;
- Utilize água e alimentos de proveniências seguras;
- Mantenha as superfícies da cozinha e os utensílios limpos;
- Não reaqueça a comida mais do que uma vez;
- Utilize uma tábua diferente para alimentos crus e alimentos prontos para comer, para evitar contaminação cruzada.
Embora nos países menos desenvolvidos as intoxicações alimentares ou gastroenterites são uma importante causa de doença grave, o mesmo não se verifica na nossa realidade e são geralmente situações autolimitadas e de rápida resolução. Para melhorar ainda mais esta situação podemos todos ter mais atenção e cuidados com os alimentos, como os manuseamos e como os ingerimos.
Autor: Maria João Nobre, Médica de Família