À medida que envelhecemos, a qualidade visual diminui “naturalmente”, devido a alterações da anatomia dos olhos. Por isso, a maioria dessas mudanças geralmente não são graves, e a prescrição de óculos ou a instituição de algumas medidas adaptativas podem ser suficientes. Contudo, outras doenças, muito comuns, como a Catarata, a Degenerescência Macular relacionada com a idade, o Glaucoma, e a Retinopatia Diabética, afetam a qualidade da visão. Além disso, acarretam um grande impacto na funcionalidade e na vida dos idosos. Assim, escrevo este artigo para chamar a atenção para as principais doenças dos olhos no idoso e para a importância do diagnóstico precoce como fator de prevenção decisivo.
Quais são as alterações visuais consideradas normais com o envelhecimento?
- Presbiopia – surge em quase todos as pessoas entre os 40 e os 50 anos e carateriza-se pela dificuldade/incapacidade de focar a visão ao perto (ex: leitura);
- Diminuição da capacidade de distinguir as cores e menor sensibilidade ao contraste;
- Necessidade de maior intensidade de luz e diminuição da capacidade de adaptação às alterações claro/escuro;
- Recuperação mais lenta após ofuscação.
Quais as medidas adaptativas aconselhadas?
- Aumentar a iluminação;
- Usar lentes coloridas no interior (ex: cor âmbar/amarelada);
- Usar lupas de aumento;
- Usar óculos de sol, chapéus e/ou visores, em dias de sol;
- Apoiar-se ao entrar e sair de divisões escuras ou esperar alguns momentos para permitir a adaptação ocular;
- Diminuir a quantidade de lâmpadas fluorescentes na habitação;
- Uso de lâmpadas incandescentes ajustáveis;
- Usar óculos com revestimentos antirreflexo.
Qual o impacto da diminuição da visão?
A pessoa que sofre de diminuição da visão pode enfrentar diversos desafios, como dificuldade em cuidar-se, em ler e escrever, em reconhecer as faces, a escolher a roupa para vestir, a fazer as compras e a cozinhar. Além disso, consoante o grau de incapacidade, torna-se mais dependente de outros para o transporte e deslocamento, e é mais propenso a sofrer que outras condições, como:
- depressão;
- isolamento social;
- quedas;
- acidentes de viação;
- fraturas (por exemplo, da anca);
- erros na toma da medicação ou não adesão ao tratamento;
- perda da independência;
- limitação da mobilidade;
- dificuldade de adaptação à mudança.
Assim, não é difícil de perceber que há uma diminuição da qualidade de vida e, mesmo, um aumento da mortalidade.
Doenças oculares mais frequentes no idoso
O quadro 1 enuncia as principais caraterísticas das doenças oculares mais frequentes nos idosos.
Doença | Principais caraterísticas |
---|---|
Catarata relacionada com a idade | • Doença ocular + comum no idoso • 1ª causa de cegueira no mundo • Carateriza-se por visão enevoada ou desfocada, maior ofuscamento e diminuição da visão, da perceção das cores e dos contrastes • Fatores de risco: envelhecimento (85%), genética, raça negra, género feminino, baixa escolaridade, corticoterapia, doenças sistémicas e oculares, tabaco, álcool, exposição à luz ultravioleta (UV) e radiações ionizantes (ex: raio X), traumatismo e cirurgia intraocular prévia • Tratamento cirúrgico é recomendado quando há défice significativo, agravamento do quadro ou sintomas incontroláveis |
Glaucoma | • 2ª principal causa de cegueira • Consiste lesão do nervo ótico progressiva, devido ao aumento da pressão intraocular • O glaucoma crónico carateriza-se por haver perda gradual da visão periférica, com perda da visão central • Fatores de Risco: idade, raça negra, genética, história familiar de glaucoma, diabetes, pressão intraocular elevada • Tratamento + comum: uso de medicação para controlo da pressão intraocular |
Retinopatia diabética | • 4ª causa de cegueira nos idosos • Causa mais provável: elevação sustentada do açúcar no sangue, logo diabetes mal controlada • Ocorre diminuição da visão, da sensibilidade ao contraste, da perceção das cores e da adaptação para escuro/luz • Fatores de risco: tempo de evolução da diabetes/mau controlo, hipertensão arterial, colesterol elevado e tabaco • Tratamento: controlo dos fatores de risco + fotocoagulação laser |
Degenerescência macular relacionada com a idade | • 1ª causa de cegueira do 1º mundo > 50 anos • Doença de evolução lenta e irreversível • Fatores de risco: idade, tabaco, hipertensão arterial, colesterol elevado, insuficiência vascular do olho, história familiar, exposição à luz UV e raça caucasiana • Carateriza-se pela perda da visão central, dificuldades na visão de pormenores, distorções, pontos cegos centrais, diminuição dos contrastes e da distinção das cores e fotossensibilidade • Não tem cura, mas a sua evolução pode ser atrasada, com adoção de medidas de estilo de vida (dieta saudável com suplementação de vitaminas e minerais em falta, controlo dos fatores de risco cardiovasculares, exercício físico para aumentar a circulação sanguínea), uso de óculos com proteção e/ou terapia fotodinâmica (se indicada) |
A figura 1 mostra exemplos de como o doente pode ver quando afetado com as diferentes doenças oculares supracitadas.
Concluindo, o reconhecimento e a gestão das doenças oculares mais frequentes no idoso, o controlo das comorbilidades e dos fatores de risco e a referenciação adequada e atempada, podem preservar e proteger a visão de muitos idosos. Além disso, devem ser avaliadas as limitações físicas e os problemas sociais associados à diminuição da visão, para que se possa otimizar a saúde e promover uma vida independente pelo maior tempo possível.
Referências
- Direção Geral da Saúde, www.dgs.pt;
- Pelletier,AL, Thomas J. “Vision Loss in Older Persons”. American Family Physician. 2009. 79(11): 963-970;
- Asbell PA, Dualan I, Mindel J, et al. “Age-related Cataract”. Lancet. 2005. 365: 599-609;
- American Optometric Association. “Care of the patient with open-angle Glaucoma.” 2002. 2ª Edição. St Louis;
- American Optometric Association. “Care of the patient with Age-related Macular Degeneration.” 2004. 3ª Edição. St Louis.
Ana Cristina Moreira | Médica de Família