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Atualmente muitas famílias optam por uma dieta vegetariana, optando por manter a este estilo de vida durante a gravidez e primeiros anos de vida dos seus filhos. Em comparação com uma alimentação omnívora, rica em carne e peixe, as dietas vegetarianas fornecem maior teor em glícidos, fibra, ácidos gordos ómega-6, carotenóides, ácido fólico, vitamina C e E, e magnésio. No entanto, podem existir risco de défice energético, ómega-3, vitaminas A(retinol), B2 (riboflavina), B12 (cobalamina) e D (calciferol), e minerais como ferro, zinco, cálcio e iodo

A European Society for Peaditric Gastroenterology, hepatology and nutrition (ESPGHAN), American Dietic Assocition (ADA), a Academy of Nutrition and Dietetics (AND) e a American Academy of Pediatrics (AAP) assumem que a implementação de um regime alimentar vegetariano bem planeado, mesmo na diversificação alimentar durante o primeiro ano de vida é possível.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a ESPGHAN recomendam o aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses de idade. Esta recomendação tem por base quer a segurança nutricional quer o reforço imunitário com consequente redução do número de episódios infeciosos. Após o início da diversificação alimentar esta deve ser complementada sempre que possível com o leite materno até aos 12 meses.

Na ausência de leite materno ou quando este não está disponível em quantidade suficiente, devem ser utilizadas as Fórmulas Infantis (FI). As Fórmulas Infantis com proteína de soja ou proteína de arroz pode ser administradas desde o nascimento. Atualmente não se conhecem as repercussões a médio/ longo prazo no crescimento e maturação biológica da utilização destas fórmulas. As fórmulas infantis à bases de soja podem conter fitatos, alumínio e fitoestrogénios, este composto têm efeitos hormonais e não hormonais, desconhecendo-se os efeitos a longo prazo desta exposição tão precoce. As Fórmulas Infantis à base de arroz podem conter arsénio inorgânico, o que levou à obrigatoriedade do seu teor.  

A introdução de alimente, inicia-se habitualmente entre o 4-6 mês, deve ser progressiva até à integração na dieta familiar que deve ocorrer cerca dos 12 meses de idade. Durante os primeiros 12 meses não devemos utilizar sal ou açúcar, idealmente pode até aos 2-3 anos.

Não devem ser oferecidas outras bebidas além das Fórmulas Infantis, nomeadamente chás, sumos ou bebidas vegetais. A única bebida que deve ser oferecida além da fórmula infantil é a água. As bebidas vegetais não devem ser introduzidas antes dos 3 anos de idade.

Os primeiros alimentos oferecidos, podem variar de acordo com os hábitos alimentares e culturais, mas habitualmente falamos de cremes/ sopas de legumes e papas de cereais. Os legumes habitualmente utilizados são o xuxu, o curgete, a cenoura, a abóbora, a cebola, o alho-francês, a alface, os brócolos, o feijão-verde e a batata/batata-doce, agrupados em 4 ou 5. As papas caseiras de cereais, implicam uma cozedura em água e posterior reconstituição com leite materno ou FI, em cru e sem adição de sal nem açúcar. Podem conter quinoa, millet, bulgur, trigo-sarraceno e aveia, para além dos cereais tradicionais.

As papas de frutas (maça, pera, banana), podem ser introduzidas 2 a 3 dias após o início da papa de cereais.

Após os 6 meses pode ser introduzido na sopa, o tofu, como fonte de proteína vegetal, numa dose máxima de 30 g/dia, de preferência fresco e natural. Posteriormente após o 7º mês tofu pode ser adicionado a preparações culinárias como a farinha de pau, a açorda, a massa, o arroz, a quinoa, o millet, o bulgur, entre outros cereais, acompanhado de legumes e hortaliças.

Entre os 7 e os 8 meses devem ser introduzidas as leguminosas como lentilhas sem casca, feijão azuki, feijão frade, branco ou preto, por serem leguminosas de fácil digestão, demolhadas e sem casca ou germinadas. Progressivamente podem ser introduzidas as restantes leguminosas.

Aos 8 meses pode ser introduzida a geme de ovo e aos 9 a clara.

A partir dos 8 – 9 meses podem ser introduzidos também produtos alimentares com elevada concentração proteica como a proteína de ervilha, proteína de Cânhamo, levedura de cerveja, gérmen de Trigo e linhaça moída.

Os frutos secos, noz, amêndoa, avelã, caju, pinhão, pistácio, o amendoim, o coco e as sementes, abóbora, girassol, linhaça e chia, naturais e sem sal, podem ser introduzidos a partir dos 9 meses.

O iogurte (confecionado com leite) ou o preparado fermentado de soja, cuja ingestão pode ser iniciada por volta dos 8 meses, ao lanche e em substituição da FI ou da papa de cereais.

No que reporta às algas, não existem estudos de segurança nutricional que suportem a sua introdução na alimentação do lactente. As algas podem ser introduzidas em pequenas quantidades a partir dos 9 meses, como complemento da sopa e até um máximo de 3-4 vezes por semana.

O tempeh, produzido através da fermentação dos grãos de soja, e o seitan, produto produzido a partir do glúten de trigo, podem ser introduzidos na alimentação do lactente aos 11-12 meses.

Todas as dietas são válidas, desde que devidamente planeadas e orientadas de forma a minimizar o risco de carências nutricionais ou energéticas.

Autor: Ana Luís Pereira, Médica de Família

Alimentação vegetariana no Primeiro Ano de Vida